Dessa vez trago uma provocação que diz respeito aos escritores da terra tupiniquim, mas não só a eles. Os leitores curiosos com o motivo da nossa pouco impactante produção literária também se interessarão pelo tema. Então vamos lá. Afinal, por que os escritores tupiniquins exaltam tanto os estrangeiros como Stephen King?
Não é um mistério que a nossa atual produção literária não é nada reconhecida, e não apenas pelo leitor, mas também pelo próprio escritor tupiniquim, que consome apenas os best sellers estrangeiros (entenda aqui americanos) e os toma como referência sagrada. Isso gera um ciclo vicioso do qual o autor brasileiro ainda não se deu conta: ninguém – nem ele mesmo – lê os novos escritores nacionais, então é óbvio que ninguém irá abrir uma exceção e ler a sua obra.
Ninguém seria estúpido de tentar culpar o baixo impacto da nossa atual literatura somente pelos escritores tupiniquins exaltarem os gringos, antes, isso é um sintoma do dificultoso e estreito mercado literário brasileiro, que forçando o autor a uma luta quase épica pelo seu espaço ao Sol, o faz querer glorificar Stephen King ou Dan Brown na busca de fugir do poço lamoso que reduz os escritores brasileiros contemporâneos a nada.
A maior culpa da baixa visibilidade e do estigma desvalorizado dos novos escritores continua a de sempre: as editoras não querem assumir riscos para divulgar nacionais. Contudo, desde que nosso engenhoso escritor tupiniquim buscou refúgio nas redes sociais para contornar a falta do apoio editorial e se autopromover, somos forçados a reconhecer que a culpa não é mais somente das editoras.
Como escritor, eu acompanho o trabalho de alguns colegas na mesma luta de se autopromover e cheguei, inclusive, a fundar com alguns deles a Fraternidade de Escritores , uma instituição sem fins lucrativos que promove a literatura brasileira. Eu vejo no instagram, hoje a mídia favorita dos escritores tupiniquins, que o enaltecimento que eles dirigem aos famosões yankes é unânime. É um louvor triste e muito masoquista do escritor nacional que pouco a pouco se sente tão desprestigiado diante aquele gringo que vendeu zilhões de cópias no país onde ele nasceu, e que tem quase certeza, onde jamais será reconhecido.
O escritor tupiniquim tenta tolamente um êxodo do cenário da literatura brasileira. É um andarilho solitário e cego, que não percebe que ao louvar os yankees ele tira de si mesmo. O escritor tupiniquim não cria qualquer afinidade com a literatura brasileira e deseja que o reconheçam, enquanto ele próprio jamais se leria ou se reconheceria. A mudança deve começar com o próprio escritor tupiniquim, parando ele de enaltecer os best sellers americanos e voltando seu olhar para a produção nacional, entendendo que ela é boa e compartilhando isso com os leitores. Afinal, um leitor só lerá um escritor nacional quando de fato compreender o valor da produção literária dessa terra, e o escritor que queira ser lido deve estar disposto a participar dessa guerra política de valorização da produção nacional.
Escritores tupiniquins, por favor, joguem Stephen King no lixo e comecem a ler e divulgar os nacionais contemporâneos.
Mais sobre o autor: Júlio César Bueno.
Acredito, Mestre Júlio, que podemos aprender e aprendemos bastante com aqueles que estão na estrada a mais tempo que nós, e pelo menos na arte/literatura “pop” contemporânea me parece que os estrangeiros têm mais bagagem acumulada, além de mais facilidade para estudar e desenvolver os conhecimentos para tal, dado que eles têm um mercado aquecido e podem até mesmo ganhar bons salários para isso. Mercado *deles* que é aquecido, inclusive, por nós, em detrimento do *nosso* como bem afirmou você, Mestre Júlio. Sinto haver um sentido subserviente aí sim. Eles mesmos aderem a essa nossa subserviência, um autor gringo que curto a obra, mas não gosto de certos posicionamentos dele, o Orson Scott Card, afirma em um de seus livros haver culturas de “centro” e de “borda”. Advinha qual é a cultura de centro? Assim, concordo imensamente contigo, Mestre Júlio, é preciso uma mudança de nosso comportamento, em literatura contemporânea (de massa, especialmente) podemos até ser alunos, mas isso jamais quer dizer que somos inferiores aos professores, que serão eles sim, os medíocres, se pensarem o oposto. Se a questão é respeito ao que outras culturas fizeram ou fazem de bom, espelhemo-nos no Japão pós-guerra e na China de hoje (no que há de bom e útil, não nas falhas e mazelas, evidentemente), eles olharam e olham o que o estrangeiro faz bem, semicondutores por exemplo, então eles aprendem com dedicação e respeito, e se esforçam para fazer melhor. Portanto, estudar o que dado autor gringo de sucesso fez e buscar compreender o que é técnica e o que é sorte, não é ruim. Até mesmo ser fã não tem nada de errado. Idolatrar cegamento é que é ruim. O problema é não compreender que um Mercado Criativo local forte privilegia não só autoras e autores nacionais, mas também leitoras e leitores nacionais e toda a *nossa* economia. Penso assim: você que adora o King vai encontrar no teu país hoje, se procurar, autoras e autores de ficção especulativa de igual sagacidade, mesmo que sem toda a estrada e notoriedade do gringo. Então, leia esses nacionais, use seu conhecimento acumulado e faça críticas >>construtivas<< se achar que essas obras podem melhorar, valorize o que receber em retorno de quem escreveu o livro, você cresce e todos ganham, pois (muuuitos gringos já sabem disso há muuuito tempo) investir no *nosso* é investir em si mesmo.
Muito relevante seu posicionamento Mestre Wagner, concordo que podemos e devemos aprender com a experiência americana e, assim, construir uma arte nacional mais cativante e respeitada.
Obrigado pelo posicionamento.