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Dia do Astronauta

| Última alteração: 14/01/2022 |

Neste dia especial, 09/01, dedicado aos homens e mulheres que arriscam muito para ampliar o alcance, as oportunidades e o conhecimento da humanidade, vamos comemorar juntos com vários “petiscos” bem legais.

Primeiro um conto exclusivo, escrito pelo Wagner RMS e que tem como protagonista uma astronauta brasileira.

Depois vamos curtir um vídeo com um episódio da série antológica nacional Outro Lado que mostra outra astronauta brasileira enfrentando o infinito.

Por fim, vamos conhecer uma interessante Lista de Astronautas Fictícios, onde, infelizmente, os personagens brasileiros quase não aparecem e são praticamente figurativos, falamos sobre ela no Instagram da Fraternidade.

Conto: Cláusula de Insanidade

(Ou um conto sobre uma astronauta brasileira que não desiste nunca).

Jade, em seu traje pressurizado, estava de pé e grudada por ímãs ao casco da Mermaid. E de ponta-a-cabeça acima do planeta gigante gasoso, embora de seu ponto de vista parecesse o contrário. A mulher buscava recuperar o fôlego, arquejando, depois de correr até ali da melhor forma que seus quarenta e seis anos e suas botas magnéticas permitiram, enquanto a grande nave de passageiros sob seus pés já começava a mergulhar, em queda livre e a centenas de milhares de quilômetros por hora, nas primeiras e tênues correntes, quase invisíveis ainda, dos gases que compunham aquela esmagadora atmosfera.

Seu tablet de pulso indicava “25/Dez/2.262 – 12:45 hora padrão”, e lá na frente, o grande escudo de proa da nave já começava a receber as chicotadas de feixes de gases um pouco mais densos que encontrava pelo caminho, e silenciosos relâmpagos do outro lado da grande e evanescente muralha de polímeros faziam o lado de cá, sob a aba do escudo, parecer ainda mais obscuro. Era para essa treva que ela corria, teria pouco mais de uma hora para chegar lá antes que o calor do mergulho na atmosfera a liquidasse. Pouco tempo para quem corria como se o chão fosse feito de cola. A mulher estava agora na claridade a meia nau, sob a luz vinda do Sol distante que era refletida pelo planeta, e se ela quisesse ver algo do resto do Universo, tinha que olhar bem para trás, em direção à popa da Mermaid, de onde viera correndo. Lá longe, além dos dutos de escape dos motores, por ora adormecidos, um retalho de céu negro era tudo que Jade conseguia ver do infinito negrume do Cosmos. Abaixo de si, a resina metálica autoregenerativa que era a duríssima pele da nave; acima dela, engolindo tudo de horizonte a horizonte, Júpiter.

Era como ser transformada em uma formiga, das pequenas, e ser colocada sob uma cúpula imensa, do tamanho do céu inteiro, e pintar a parte de dentro desta concavidade com listras brancas, ondas e ciclones marrons e laranjas, rastros avermelhados e salpicos de um vermelho vivo; e então fazer aquilo virar sorvete derretido, e ir agitando tudo, lentamente, em um bilhão de lugares. Só os respingos rubros não se mexiam…

Envesgando ligeiramente os olhos verdes, expressão grave, Jade fez foco no interior do capacete de seu traje. As gotas vermelhas… eram sangue.

Jade recomeçou a correr.

[ENVIANDO MENSAGEM NOVAMENTE]

Primeiro envio: 18/Dez/2.262 – 23:15 hora padrão.

Missão: Nave de transporte e resgate AEB VTI 1273 Ayrton Senna atracada à nave de passageiros SOIC 0309 Mermaid da frota de conexão interplanetária, em aproximação final do planeta Júpiter. A Ayrton Senna foi designada para atender ao chamado de emergência, vindo da Mermaid e emitido pelo Soldado Especialista de 1ª Classe codinome Paperclip (ele insiste em não se identificar, não expõe o rosto. Sua criptografia governamental é válida).

Tripulação da AEB VTI 1273 Ayrton Senna: Capitã Jade Suassuna (brasileira, militar, engenheira aeroespacial), Primeira Oficial Tenente Maud Alicia Beelman (inglesa, militar, piloto), Especialista de Missão Umar Cheema (sul-africano, engenheiro de voo), Especialista de Missão Yi-Shan Chen (chinesa, médica), Especialista de Missão Theophilus Abbah (turco, computação).

Objetivo da Tripulação da Ayrton Senna: Confirmamos que a Mermaid, bastante avariada, deve explodir se tentar a manobra de frenagem gravitacional próxima ao Sol para voltar a Terra. Portanto, pretendemos criar condições para que esta nave de passageiros, ainda tripulada com 326 civis e 1 militar (Paperclip), consiga fazer uso dos seus escudos dianteiros e executar manobra de aerofrenagem de emergência na atmosfera superior de Júpiter, para depois entrar em órbita heliocêntrica e aguardar resgate neste setor do Sistema Solar.

Situação Geral: No momento estamos reestabelecendo a pressurização e reconstruindo acesso aos sistemas primários de navegação da ponte de comando da Mermaid (sua despressurização causou a morte da tripulação de comando original), pois todos os sistemas redundantes foram perdidos também, durante os impactos de múltiplos objetos arremessados pelo planetoide alienígena que está mergulhando no Sistema Solar. Segue em anexo imagens feitas pela Mermaid, o planetoide é artificial! Vocês aí têm novidades sobre isso? Numa mensagem truncada que captamos, ouvimos que o planetoide arrasou Marte inteiro! Isso é uma invasão? Estamos nos aproximamos de Júpiter em voo inercial, a pouco menos de 680 mil quilômetros por hora. Nova mensagem deve ser enviada ao Controle de Missões quando conseguirmos frear a Mermaid. Esta é a nossa esperança.

Assinatura Criptográfica: CEI-K9432-WOLFPACK-098FL271342 – Inteligência artificial de acompanhamento da missão Laterza-Orwell.

Alterações desde a repetição anterior desta mensagem: A nave AEB VTI 1273 Ayrton Senna foi desconectada da SOIC 0309 Mermaid, emergencialmente, sob ID de acesso da Capitã Jade Suassuna, em 25/Dez/2.262 – 11:25 hora padrão, e estamos mergulhando em Júpiter, à frente da Mermaid.

[ACUSADO RECEBIMENTO NO COMANDO DA MISSÃO: NÃO]

[MENSAGEM SE REPETIRÁ 4/4H AUTOMATICAMENTE, ATÉ ACUSADO RECEBIMENTO]

Paperclip pretendia sabotar a manobra de frenagem da Mermaid, e Jade apostava que ele chegaria muito mais rápido à ponte de comando da nave, já que seguia por dentro dela, sem botas magnéticas. E Maud o deixaria entrar, confiaria nele. Sem os comunicadores internos da nave, queimados, e com o contato traje a traje arruinado pela interferência do soldado, Suassuna não tinha como avisar sua primeira oficial de que Paperclip estava querendo matar todo mundo! Só Chen estava longe, na Ayrton Senna, mas o soldado matou Cheema na primeira sabotagem na popa da Mermaid, e agora havia dado cabo de Abbah, com certeza. Todos, incluindo Maud e a própria Jade, estavam terminando seu tempo de serviço, doze anos juntos no espaço e iriam se aposentar. A Capitã Suassuna não era dada a muito papo, mas aquelas pessoas eram a sua tripulação.

— Filho da puta assassino! — Murmurou Jade entre os dentes, enquanto corria, e teve um acesso de tosse. Mais respingos vermelhos no interior do capacete, um presente da descompressão explosiva para escapar do compartimento na popa da Mermaid, onde ela havia sido trancafiada pelo soldado codinome Paperclip, quando Abbah o confrontou. Suassuna sempre mantinha as plantas de todas as naves da frota off-line em seu tablet, e sabia como causar explosões controladas e onde achar trajes de emergência nelas.

A tosse estava mais forte. Recostando-se à estrutura de uma torre de radar que se projetava para fora do casco da nave, a mulher teve que parar de correr mais uma vez. Nunca chegaria a tempo, faltava mais da metade do caminho. Precisava de opções. Quase podia sentir o vasto Júpiter, acima, clamando por ela com cada vez mais força. Se pudesse usar essa força… talvez… acionou o tablet em seu pulso esquerdo, cuja tela tridimensional lhe tomava o antebraço. As luvas de seu traje não eram desajeitadas, como as dos antigos astronautas, assim ela digitava rapidamente comandos e efetuava cálculo após cálculo, o que invariavelmente terminava em um bufar frustrado. Em dado momento seu corpo se curvou para frente com novo acesso de tosse, e os olhos de Jade subitamente se fixaram em algo no chão.

Agarrou e puxou um grosso fio, confeccionado com materiais artificiais bastante flexíveis e metalizados, que estava fixado ao longo do casco da nave. Pequenas e silenciosas explosões de pó indicaram onde as presilhas do cabo estouravam em cadência, por uns dois metros à frente, devido ao puxão de Suassuna. Aquele era um dos conduítes sensores, que enviavam e traziam do cérebro da Mermaid dados sobre sua pele. A maioria destes cabos corria por baixo do casco, mas havia um fio dorsal e outro ventral, redundantes. Jade possuía apenas um alicate comum no seu traje, não havia ferramenta de crimpagem, nem conectores óticos adequados para fazer uma ligação ali e falar com a ponte. Mas havia o cabo em si… Jade retomou a ação em seu tablet, consultando, nas plantas da nave, o ponto de entrada daquele conduíte no casco, mais à frente.

— Aqui você é muito bem preso. — Murmurou e voltou aos cálculos, programando uma representação gráfica dos mesmos. Solicitou ao tablet um contador de distância em metros e pouco depois estava correndo de volta lá para os motores inativos na popa da Mermaid, seguindo o conduíte no chão, olhando ora para ele, ora para a tela em seu braço, e contando:

— Vinte e três… vinte e quatro… vinte e cinco… vinte e seis.

Parou. Se saltasse agarrada a um trecho de vinte e seis metros daquele cabo elástico, quando o conduíte se estirasse e se ela o soltasse no momento certo, Jade seria puxada de volta para a Mermaid, mas numa trajetória curva que a deixaria bem perto da ponte de comando. Se seus cálculos estivessem certos, ficaria pouco tempo acima da proteção do escudo frontal. Agachou-se e, com seu alicate e bastante esforço, cortou o grosso fio sensor e enrolou a ponta seccionada do conduíte metalizado e flexível na mão esquerda. Feito isto, se virou para os lados do escudo, na proa. Seus grandes olhos esmeraldinos, tristonhos e tensos a princípio, tornando-se determinados. E ela disparou, naquela corrida um tanto desajeitada com suas botas magnéticas, novamente mirando a treva sob o escudo na frente da Mermaid! No entanto, uns três metros depois de começar sua corrida, Suassuna acionou um comando no tablet em seu antebraço, desativando suas botas. Livre do magnetismo ela saltou com toda a força para frente e para cima. Ou melhor, para baixo, em direção à atmosfera de Júpiter. Sua respiração cada vez mais ofegante e tensa. Possuía ar suficiente em seus tanques de gel respiratório para ficar do lado de fora por umas oito horas ainda, mas se caísse no planeta, bem antes disso seria cremada pelo atrito e depois triturada pela pressão. Com um novo toque na tela do tablet de Jade, o gráfico simples que ela programou surgiu, formando um arco, e um pequeno quadrado piscante e verde subia por esta linha curva, cujo ápice estava realçado em vermelho. Os olhos arregalados no rosto afogueado e suado da mulher agora iam do desenho no seu antebraço para o céu, que era o devastador Júpiter, e depois para o conduíte em que ela se agarrava, cujos fixadores estouravam silenciosamente na superfície da Mermaid, um após o outro. A astronauta, presa ao cabo por uma das mãos, se distanciava do casco da Mermaid mais e mais, a ponto de Jade ter a sensação de que a atmosfera joviana estava engolindo não apenas a ela, mas ao Universo inteiro! Se o cabo partisse, se escorregasse de sua mão enluvada… súbito, porém, o conduíte se retesou, esticando-se ao máximo, enquanto a mão esquerda de Suassuna parecia que seria arrancada! Com um grunhido de dor, a mulher sentiu que o conduíte começou a se contrair, e a puxar ela de volta para o casco da nave, negando a Júpiter esta vítima. No gráfico do tablet o quadrado verde atingiu o ponto mais alto do arco e começou a descer por ele, no lado oposto ao que havia subido. O quadrado ficou azul por um momento, e Jade largou o cabo.

Enquanto o calor, vindo dos gases que se chocavam com o escudo de proa, aquecia o traje de Suassuna a ponto de um alarme começar a tocar em seu capacete, ela mirava, sem piscar, o gráfico em seu tablet. O quadrado, novamente verde, ainda descia, mas começava a se afastar, um pouco para cima, da linha em curva descendente que era a metade final do arco. Se subisse demais, ela passaria por cima do escudo e queimaria na intensa temperatura lá na frente. Jade tentou se contorcer e mudar de posição, tentando estender os braços para baixo. Se passasse rente ao escudo poderia se agarrar… mas o calor ardente, a borda do escudo se aproximando, e o afastamento cada vez maior do quadrado verde para longe da linha curva anunciavam que já não havia esperança. A mulher começou a gritar, não por dor ou medo. Era fúria!

Foi quando o visor de seu traje pressurizado prateou, em resposta rápida à intensa claridade de mais um relâmpago silencioso e particularmente forte, que explodiu na proa da Mermaid. O alarme no capacete dobrou de intensidade, e agora a voz impessoal do sistema de bordo avisava sem parar que a astronauta precisava se afastar com urgência da fonte de calor! Calor fatal, calor fatal! Então a expressão tensa de Suassuna foi ficando flácida, os seus olhos revirando, a consciência se esvaindo. Jade lutava para não perder os sentidos, enquanto o quadrado verde e o corpo dela desciam pelo arco, e para dentro da gelada sombra do grande escudo frontal da Mermaid. As luzes de seu traje se acenderam automaticamente, e os alarmes de calor se calaram. Quando estava quase tocando o casco novamente, Suassuna conseguiu, enfim, espantar o torpor e retomar o controle de si. A explosão, um jato de gás quente, havia passado por cima dela, a mulher constatou, forçando sua trajetória para baixo. Um evento fortuito salvou sua vida. Com os olhos úmidos, ela murmurou:

— Obrigada…

Acionando o magnetismo das botas de seu traje, Jade estava de volta à superfície do casco da grande nave de passageiros. Chegou ali cerca de setenta metros adiante de onde cortou o cabo que usou para seu salto pendular. Pouco mais à frente estava a comporta de entrada, acesso para a antessala da ponte de comando da Mermaid. Jade ainda possuía consigo cerca de um metro de cordame explosivo. Precisaria de menos que isso pra arrancar aquela porta. Maud não sairia de jeito nenhum dos controles na ponte, durante a manobra de aerofrenagem em curso.

— Mas você já pode estar aí, filho da puta, quando eu explodir tudo. — Disse Jade, enquanto começava a posicionar a carga explosiva.

Foi quando a comporta começou a se abrir lentamente. Alguém, num traje pressurizado, avolumando-se por trás da porta que se escancarava. O alicate, arma frágil, tremia na mão enluvada de Suassuna.

Mas era Maud, no visor do capacete seu rosto, redondo e amigável, mostrava reconhecimento no olhar ao sair da nave e ver a capitã Jade. A interferência ainda estava lá, então se cumprimentaram apenas com gestos. Suassuna continuava antissocial, mas ensaiou até mesmo um abraço em sua primeira oficial. Entraram e a comporta se fechou atrás delas, e a capitã da Ayrton Senna tirou o capacete e inspirou profundamente o ar menos viciado do interior da nave, seus cabelos anelados e cor de fogo fugindo de um laço feito às pressas, e se derramando por seus ombros e costas.

— Capitã, o que houve? Te vi pela câmera externa chegando. Não sabia que era você, claro, mas só podia ser um de nós…

— Entra na sala de comando. Se tranca lá. — Ordenou Suassuna. — O sabotador que matou Cheema foi Paperclip.

— Porra… Estamos ferradas…

— Se tranca aí. — Repetiu a capitã, se virando e vasculhando a antessala. — Freia a Mermaid. Preciso lacrar a porta que vem do interior da nave, e improvisar uma arma…

A porta, dupla como as de elevadores, que dava para um corredor e dali para o resto da Mermaid, se escancarou, e Paperclip lançou algo para dentro. Um estouro cegante, fumaça, desorientação. Algo metálico passou raspando sobre o olho direito de Jade, vindo de trás dela, derrubando a mulher. Ela voltou a gritar, selvagem e se erguendo de um salto!

Escuridão.

Suassuna acordou sentindo que projetava o maxilar e rilhava os dentes, os olhos esbugalhados, o corpo inteiro tenso! Algo quente lhe escorria da têmpora direita, e com ambas as mãos ela empunhava o longo cabo de uma grande faca de campanha, toda feita de metal, cuja lâmina brilhante entrava pela junta da axila esquerda da armadura tática camuflada de Paperclip, e penetrava fundo na carne do sujeito, cujo rosto oculto pelo elmo da armadura Jade encarava bem de perto. Ele estava contra uma parede, sentado no chão, e parecia rendido e desarmado. Se ela forçasse a lâmina um pouco mais para dentro e para um lado, dilaceraria o coração do homem. Mas ela não fez isso. Nunca havia feito isso! Como sabia?

— Como? — Ela disse, incerta. — Porra! O que… ?

Olhando por cima do ombro, sem desencravar a faca de Paperclip, viu que ainda estavam na antessala da ponte de comando da Mermaid. Estava tudo revirado, houve luta. Alguém atrás dela estava estirado no chão, ensanguentado, parecia… Maud. Foi quando Jade se deu conta que o soldado falava, sua voz tornada gutural pelo filtro do capacete:

— Para! Para! Espera! Sophia… — E diante da interrogação nos olhos selvagens de Suassuna, ele completou: — Seu nome de verdade. Sophia Jadore.

— Porque você quer matar todo mundo, cara? Que merda de missão é essa tua?

— Não. Não só minha. A Agência acha que a massa da Mermaid consegue arrombar o portal na Grande Mancha de Júpiter, no Vigilante do Abismo. Tem algo do outro lado capaz de salvar a humanidade do ataque desse planetoide invasor. Shiva, chamamos o invasor de Shiva! Mas precisava de agente muito foda pra buscar essa merda lá do outro lado. Eram vocês ou o pessoal da Sparrowhawk. Eu… vou te mostrar uma parada…

O homem grunhiu e ergueu a mão do outro braço, onde não havia uma faca cravada, e Suassuna rosnou, cuspindo sangue e aprofundando um pouquinho mais a lâmina. O soldado urrou como um urso, mas depois exibiu a palma da mão e disse, terminando a frase em um grito:

— Só vou abrir minha v-viseira, porrah!

— Que merda aconteceu aqui? — E jade fez um gesto amplo com uma das mãos.

— A agente dentro do inconsciente de Maud despertou, daí ela quase te fodeu! Maud criou a interferência no rádio traje a traje, depois da explosão na popa. Você, instável, vai e volta, desperta e adormece. Orwell mandou que matassem você por causa dessa instabilidade. Cheema ia conseguir, quando ferrei ele. Agora a tua piloto você mesma matou, antes de me derrubar!

— Vai se foder, Paperclip! — A faca devorando mais um bocadinho de carne. O grito do homem pareceu um trovão ribombando na pequena antessala. — Quem é Orwell?

—  Ahhh! A Agência! A IA principal da Agência! Você é uma de nós, nem a comandante McNamara é tão filha da puta! Olha teu tablet! A capitã mandou a Ayrton Senna mergulhar em Júpiter. Chen nem despertou ainda, e você fodeu ela! Só você sabe seu código! Ah!

Hesitante, ela viu que de fato havia entrado com seus códigos de prioridade, e mandado sua nave desatracar da Mermaid e cair em Júpiter feito um pedregulho.

— A missão é salvar a humanidade… mas não podia ser você. Instável. Cláusula de insanidade pra Sophia Jadore! Dupla personalidade! Eu… só tinha que despertar vocês, já que Shiva tá fodendo o Sistema Solar, além do sinal direto do Orwell, então só rádio comum funciona… tinha que ser ao vivo. Assim que chegaram transmiti as ativações, químicas, pelo ar… pra vocês, que vencesse o melhor… mas, antes… eu sabia que a Senna era comandada por você… vamos mergulhar na Grande Mancha, no Portal de Júpiter… todos mortos, menos a doida… da Jadore… Orwell precisa de você agora… não tem escolha, e eu… quero que você viva!

— Por quê?

— Eu fui derrubar o filho da puta… do Abbah… — a mão mole e vacilante dele foi novamente ao capacete. Desta vez a mulher o ajudou. — E ia voltar e te dizer a verdade… foda-se se você me matasse… mas você arrombou o casco…

Paperclip finalmente destravou e abriu o visor de seu elmo. E Sophia Jadore, subitamente desperta, encarou um rosto que não via há vinte anos. Poderia ter casado com aquele homem. Mas… Orwell descobriu que ele, Pedro, havia exposto a Agência.

— Pedro Quaderna. Disseram que morreu em missão… suas filhas… é proibido ver nossas famílias civis depois que entramos pra Agência… — A mulher murmurou para si mesma. A faca foi saindo o mais mansamente possível do corpo dele.

— Eu não podia abandonar elas… Orwell te mandou matar as meninas… — Os cabelos negros de Pedro estavam grisalhos, mas a voz ainda grave e doce como há vinte anos, mesmo enquanto se esvaia a luz de seus olhos castanhos. — Você desobedeceu… ele te torturou muito, você não disse… depois… você, ainda útil… mas instável… nos afastaram… eu te amei antes disso, e muito mais depois… salva a porra do mundo… Sophia…

Fim.

O conto acima faz parte do universo de livros C7i, conheça.

Outro livro aqui da nossa Fraternidade que contém viagens espaciais é Quãm e os Indícios Mortais, não perca.

O Último Olhar

Parte da premiada série brasileira de ficção e fantasia Outro Lado, da Kilmerson Dreams Produções, o episódio abaixo conta a história de uma jovem astronauta, à deriva no espaço, que descobre os valores e as belezas da vida quando já é tarde demais.

Conheça a Lista de Astronautas Fictícios (Inglês):

Mas antes não deixe de compreender quais são os critérios (traduzidos do inglês) para que estes personagens estejam nesta lista:

  1. Um astronauta fictício deve ser humano (não um alienígena, robô ou animal).
  2. Um astronauta fictício deve estar em um voo originado da Terra; viajantes espaciais envolvidos em viagens casuais entre outros planetas (como em Star Wars ou Battlestar Galactica) não são elegíveis.
  3. Um astronauta fictício deve ser apresentado como vivendo no período da exploração inicial do espaço, ou seja, desde o início da Era Espacial até o presente e por algumas décadas no futuro; atualmente, no período de cerca de 1960–2060.
  4. Um astronauta fictício é preferencialmente parte de um programa espacial real, como por exemplo a NASA ou o programa espacial soviético / russo, ou cópias fictícias do mesmo (por exemplo, ANSA, IASA).
  5. Um astronauta fictício usa preferencialmente a tecnologia de viagens espaciais dentro do reino do possível. Deve-se dar preferência aos astronautas retratados usando tecnologia real (por exemplo , Apollo , Soyuz, ônibus espaciais) ou cópias fictícias da mesma.

A lista: https://en.wikipedia.org/wiki/Lists_of_fictional_astronauts

Autores deste artigo: Wagner RMS & Bianca Matos.

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