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O que é ser leitor?

Olá, eu sou Júlio César Bueno, autor da distopia “Signum” e membro fundador da “Fraternidade de escritores”. Tenho compromisso marcado com vocês na quinta feira, a cada 15 dias, escrevendo para a coluna Jornal Tupiniquim.

Essa humilde coluna será um espaço para discutirmos e pensarmos a arte, cultura e, principalmente, a literatura dessa nossa terra tupiniquim. Calma! Prometo que não vai ser nada chato.

Indo, então, para o assunto desse primeiro post, que tem como título: O que é ser leitor?, a ideia surgiu quando vi a lista dos 5 livros mais vendidos no mês de Janeiro, divulgada pela “PublishNews”. E o que, de cara, mais chama a atenção é que todos os livros são de autoajuda:

1º – “Mais esperto que o diabo”, Napoleon Hill.

2º – “A sutil arte de ligar o f*da-se”, Mark Manson.

3º – “Atitude positiva diária”, Eduardo Volpato.

4º – “Do mil ao milhão”, Tiago Nigro.

5º – “Pai rico, pai pobre – edição 20 anos”, Robert T. Kiyozak

https://www.publishnews.com.br/ranking/mensal

São best sellers que costumam figurar no topo dos livros mais vendidos e já muito conhecidos do grande público, com algumas caras novas no ranking, como o “Do mil ao milhão”, de Tiago Nigro. Mas a lista dos “mais vendidos” encabeçada pelos livros de autoajuda nos leva à pergunta de um milhão de dólares: O que é ser um leitor?

Antes de tudo, calma. Não tenho nada contra auto ajuda e inclusive lhes recomendo uma excelente, e que, de fato, me ajudou muito, “O milagre da manhã”, de Hal Elrod.

A questão aqui levantada, no entanto, é: auto ajuda é leitura que forma um leitor? Bem, para não criar suspense e dar uma resposta direta, não, não é! Mas sendo assim, o que é, então, ser um leitor?

Um leitor, na definição do Instituto pró livro, “é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses.”

Essa definição pode servir melhor para as editoras e o mercado literário em geral, onde a preocupação é levantar estatísticas sobre o público consumidor, mas no quesito literário, é uma definição pobre. Primeiro, pelo equívoco sobre o período de leitura, afinal, um leitor pode não ter lido nos últimos 3 meses e, ainda assim, ser um leitor, mas a questão é ainda mais profunda do que isso.

Para recomeçar devidamente a discussão, desta vez sendo o mais assertivo possível, só se forma um leitor com literatura! Assim sendo, creio que para respondermos o que é um leitor, precisamos nos aprofundar no que vem a ser a própria literatura.

Para isso, tomarei emprestada a definição do sociólogo e cientista da literatura, Antonio Candido, “literatura faz viver”. Diz ele que a literatura tem um caráter humanizante, porque fornece ao leitor múltiplas experiências de vida. George R. R. Martin afirmou algo parecido. “Um leitor vive mil vidas antes de morrer. O homem que nunca lê vive apenas uma.”

Ao ler “Os miseráveis”, por exemplo, o leitor pode saber como é ser pobre, mesmo que nunca tenha sido. E se quiser sentir o contrário, expiar como ser rico em “O grande Gatsby”. E para experimentar como vivia uma mulher no início do século XX, Virgínia Woolf é o ideal. Ou se a visita for a tempos mais longínquos, na idade clássica, aquele que lê Homero se encanta com o espírito da Grécia Antiga, e pode se sentir o próprio Aquiles na Guerra de Troia, ou Ulisses no épico regresso para o lar. Isso porque ler nos permite experimentar várias vidas. O leitor é um navegante além do tempo e espaço, e nada pode prender sua mente.

Explicado tudo isso, não é difícil saber o que falta aos livros de auto ajuda ou livros religiosos, que alguns insistem em incluir no conjunto de livros formadores de leitores, o que não é correto. Esses livros, afinal, não nos permitem experimentar outras vidas, logo, não humanizam, e não fornecem a maior contribuição que a literatura (e o leitor) pode oferecer à humanidade, ou seja, a empatia, o dom de se colocar no lugar do outro, porque, de certa forma, o leitor já sentiu a dor alheia e já viveu o que o outro vive.

A auto ajuda pode ser ótima para o desenvolvimento pessoal, com suas várias receitas e exercícios práticos (e não digo isso com falsidade), mas jamais será substituta da literatura, capaz de formar humanos mais “humanos”, no melhor sentido da palavra. Ficamos, assim, na torcida para que a lista dos livros mais vendidos tenha, com o tempo, alterações, onde a literatura conquiste mais espaço, que hoje parece ser totalmente tomado pelos best sellers (nem todos de auto ajuda, mas que também não são literatura. Outra discussão…).

Mais sobre o autor: Júlio César Bueno.

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