| Última alteração: 16/02/2021 |
Olá, sou Wagner RMS, escritor e roteirista que teve o privilégio de apoiar um pouquinho e conhecer em primeira mão o trabalho incrível destas duas referências do Mercado Criativo que vou entrevistar hoje. O showrunner Flávio Langoni nos deu a primeira websérie nacional de ficção científica, Onda Zero, que provocou uma revolução no formato e no gênero no Brasil, recebendo prêmios e indicações mundo afora. Com a parceria da talentosíssima produtora Lívia Pinaud os dois ampliaram os horizontes da FC&F verde e amarela nas telas, realizando shows como Nomade 7 (disponível na Amazon Prime Vídeo) e a websérie antológica Outro Lado , que arrebanharam reconhecimento, indicações e prêmios os mais importantes em quase todos os continentes do planeta Terra! Sem mais, aplausos para eles, que representam com destaque todos nós, Criativas e Criativos brasileiros:
Wagner RMS: Que legal poder começar nossas entrevistas com vocês dois! Sou fã, quero autógrafos. Mas, sem mais delongas, ao que interessa: Mestre Flávio, qual é o processo de criação de histórias de vocês?
Flavio Langoni:
Apesar de termos cada um a sua função, o nosso trabalho, na Kilmerson Dreams, se mistura muito. Eu participo bastante da produção com a Livia e ela, do desenvolvimento das histórias comigo. A ideia inicial para uma história costuma vir, para mim, de lugares muito diferentes. Às vezes de uma música que eu escuto e que me traz uma cena que pode ser desenvolvida e virar uma história inteira, de inspirações de infância misturadas com um olhar pro futuro, como foi o caso do Nomade 7 e até de necessidades que nós possamos ter com relação a projeto. Por exemplo: Precisamos de uma história de ação, ou de um romance e por aí vai.
Depois dessa ideia inicial, que geralmente é uma centelha, a gente senta para discutir e desenvolver. Nossa Sala de Roteiro particular rsrsrs. Eu gosto muito desse processo, principalmente se ele envolver um chocolate quente na varanda, no inverno de Nova Friburgo, ou um capuccino! Ele pode ser rápido, coisa de um dia ou dois, ou pode demorar bem mais tempo até encontrarmos o caminho certo pra história e, inicialmente é um critério muito subjetivo. De feeling mesmo. Nós descartamos muitas ideias boas e outras catalogamos, mas só nos damos por satisfeitos quando encontramos a linha certa.
Aí passamos pra uma segunda fase, que envolve o desenvolvimento da ideia em si, dentro das necessidades do projeto. E aqui entra tempo ou duração, o que precisamos explorar em termos de técnicas de filmagem e narrativa, entre outros aspectos da produção. Só depois disso vamos pra confecção do roteiro.
Geralmente sou eu que escrevo os roteiros e desenvolvo cada cena. Gosto muito de fazer isso escutando música e me transportando pro universo daquela história. Eu descobri um prazer muito grande em escrever os roteiros.
Com o roteiro pronto, passo ele pra Livia ler e voltamos com ele pra análise. Tem algum furo? Ele está com o tempo necessário? Existe alguma situação que possa gerar problemas de produção? Estamos atingindo os objetivos do projeto? É muito comum, depois dessa análise, avançarmos para os outros níveis de tratamento do roteiro, que vai sofrendo alterações ao longo do processo para fecharmos um alinhamento equilibrado entre a história e nosso poder de produção. Só depois disso tudo, é que nós apresentamos a história e o roteiro aos nossos parceiros de empreitada!
Wagner: Agora quem realmente faz o trabalho (brincadeira, brincadeira!), Mestra Lívia, qual a relação da Produção com o Roteiro e como isso impacta na confecção da história a ser narrada?
Livia Pinaud:
Apesar de não ser exatamente uma atividade artística, é papel da produção tornar possível que uma história seja contada, seja em livro (produção do livro físico ou ebook), teatro ou audiovisual. Para que essa história seja produzida, ela deve ser viável e aqui podemos falar de orçamento, sets, profissionais envolvidos e tudo o que você possa imaginar para que o roteiro saia do papel e vá para as telas.
Quando existe uma sintonia entre quem escreve a história e quem realiza a produção, a própria criação da história já acontece dentro das capacidades de produção. Isso não significa que não se possa ousar ou alargar esses limites. Mas quando o roteirista tem conhecimentos de produção ou tem ao lado dele ou dela uma pessoa de confiança que faça esse papel, essa ousadia se torna um desafio e não um problema que pode até impedir que a história saia do papel.
Como o Flavio disse, nós fazemos essa análise em dois momentos na criação das histórias. A primeira é antes da história ir para a fase da escrita do roteiro em que analisamos juntos se ela está cumprindo os propósitos do projeto e a segunda, depois do roteiro “pronto” em que analisamos se existe algum furo na narrativa e problemas de produção. Como o Flavio entende muito de todo o processo de produção desde a filmagem até a finalização, ele escreve já sabendo o que pode ser feito e o que não pode. O que pode ser experimentado e o que inviabilizaria a produção. E com isso, nos desafiamos e crescemos muito a cada produção.
Wagner: Aqui um ponto que merece toda a atenção de nossas autoras e autores, aspirantes ou profissionais, sugiro muita atenção à aula que Mestre Langoni deve dar agora. Flávio, quais são as diferenças entre roteiro e Literatura?
Flavio:
Acho que a principal diferença que eu posso citar é que na Literatura, cada leitor tem um papel muito grande e importante que complementa o papel do autor, imaginando à sua maneira e dando uma versão audiovisual daquela história. Um exemplo que eu gosto muito de citar é quando o livro apresenta um homem lindo ou uma mulher linda e cada leitor vai seguir com a história imaginando o que é um homem lindo ou uma mulher linda para si. E o que é bonito pra mim é diferente do que é bonito pra você. No audiovisual, a materialização é o resultado da leitura/visão do Diretor. Acho que por isso é tão comum as pessoas gostarem mais do livro do que do filme!
Mas existem outras diferenças mais técnicas, como por exemplo, o que é colocado no papel. Em um roteiro, geralmente você só escreve o que vai aparecer na tela, porque o espectador não tem como saber o que você escreveu. Se o pensamento do personagem for muito importante pra história, terá uma narração ou alguma indicação visual desse pensamento. Já na literatura, o leitor só sabe o que você escreve, então, se aprofundar nos pensamentos e sentimentos dos personagens pode enriquecer muito a história.
Wagner: Assino embaixo. E com relação a Produção, como vocês estão criando a estrutura pra produzir nacionalmente, visando o mercado internacional?
Livia:
Quando chegamos em Nova Friburgo, que é a cidade em que fui criada, nós tínhamos um projeto de série que queríamos executar em 1 ano. Depois dos roteiros prontos, quando começamos a pensar na produção, percebemos que seria muito difícil realiza-lo no formato que nós queríamos e que a melhor atitude a se tomar, naquele momento, era dar um passo pra trás e entender a situação. Por isso, o primeiro passo que demos na direção de criar essa estrutura foi conhecer. Conhecer e conversar. Conhecemos artistas, profissionais técnicos, empresários e comerciantes e passamos a entender as necessidades da cidade.
A nossa primeira ação foi criar um cadastro que, inicialmente, seria interno da produtora. Percebemos que a maioria dos artistas não possuía material em vídeo, muito necessário para os produtores. Fizemos uma sessão para gravar 30 videobooks e, à partir daí, resolvemos abrir este cadastro em uma página no Facebook com os artistas que já estariam preparados para trabalhar com video. Então pensamos: por que não divulgarmos todos com quem trabalhamos neste processo? Hoje, a página conta com a divulgação de artistas, produtoras, fotógrafos, maquiadores e ela é atualizada conforme vamos conhecendo os profissionais de Nova Friburgo. Se alguém quiser produzir aqui, é só olhar a página Catálogo Audiovisual Nova Friburgo, que vai encontrar muita gente boa lá!
E foi assim que nasceu o projeto de série Outro Lado. É uma série antológica de episódios curtos, que também funcionam sozinhos como curta-metragem. A nossa ideia foi usar cada episódio como forma de experimentar e desenvolver algum aspecto de produção, narrativa, protocolos e/ou relacionamentos. Procuramos variar ao máximo elenco e equipe para que possamos conhecer o máximo de profissionais possível e, desse projeto ainda surgiu um programa de mentoria que, gratuito, conta com alunos nas áreas de Direção, Produção, Fotografia e Edição.
Desde o primeiro episódio, resolvemos filmar todas as cenas faladas em duas línguas. Filmamos em Português e depois filmamos novamente em Inglês. Assim, temos produtos produzidos em Nova Friburgo que são distribuídos no Brasil e no resto do mundo.
Wagner: Sou fã confesso do trabalho de vocês e imensamente feliz pelo seu sucesso, pois talentos assim merecem o reconhecimento e abrem oportunidades para todos. Recomendo que você, que está lendo esta entrevista, acompanhe de perto e, se quer produzir FC&F nacional, siga e se inspire no trabalho deles. Flávio, Lívia, meu muito obrigado por doarem um pouquinho de seu valioso tempo para me conceder essa entrevista, agradeço em meu nome e de toda a equipe e comunidade da Fraternidade de Escritores. Ad astra et ultra e continuem invertendo a mão a que estamos acostumados, transformando em realidades os nossos sonhos e levando-os para o mundo todo ver também!
Espero que você tenha curtido a nossa primeira entrevista, tomara que me conte o que achou nos comentários e vou torcer para que possamos nos encontrar aqui, eu, você e outras mentes criativas e geniais, muito mais vezes! Muito obrigado, até breve.
Mais sobre o autor/entrevistador: Wagner RMS.
O aspecto mais legal desse trabalho é que o compromisso não é só com o sucesso, mas, principalmente, qualidade e promoção/fomento das capacidades do nosso povo em produzir histórias fascinantes, seja através de uma maquiagem, seja através de produções cinematográficas.
Muito obrigado por comentar, Victor! Sim, nos chama a atenção esse comprometimento, o mesmo que o nosso, com a ideia de que a produção criativa nacional tem tudo para crescer e ganhar muito mercado, entregando entretenimento de alta qualidade para quem lê e assiste. Abraço.
Parabéns pela entrevista, Wagner.
Muito bom conhecermos um pouco mais, talentos nacionais.
Gostei especialmente da resposta para diferenças entre roteiro e Literatura.Grande abraço e sucesso à todos!
Mercia, adoramos sua mensagem, a Fraternidade te agradece deixar seu comentário, seu incentivo. A ideia por trás das nossas entrevistas é essa, trazer pra vocês o pensamento e a sabedoria de profissionais representativos do momento atual de crescimento e expansão do nosso Mercado Criativo nacional. Muito sucesso pra você também, abraços de todos nós.
Parabéns mestre Wagner, Flávio Lívia. Cada vez mais nos deixando orgulhosos de termos produtos magníficos, genuinamente brasileiros, no mercado.
O meu muito obrigado a vocês.
Fabiano, muito obrigado! Estamos todos, aqui na Fraternidade de Escritores, felizes com seu comentário. É muito gratificante ver a reação de nosso público. O seu apoio é importante pra caramba! Toda vez que incentivamos nossa Arte e nossa cultura brasileira, seja ela clássica e/ou contemporânea, todos nós ganhamos. Nossa esperança é poder te divertir muito e informar cada vez mais e melhor! E com o apoio e incentivo seu e de todos que valorizam nosso Mercado Criativo nacional vamos conseguir. Grande abraço e todo sucesso pra você também!
A entrevista foi excelente, vocês estão de parabéns! É muito importante valorizarmos os ótimos profissionais brasileiros que realizam trabalhos à altura ou até mesmo muito superiores aos seus similares de outros países. Esse é o caso da Kilmerson Dreams, do Flávio Langoni e da Lívia Pinaud, queridos amigos e profissionais sensacionais.
Um beijo do Anjo!
Archanjo
Olá, Marcos Archanjo, todos nós da Fraternidade de Escritores te agradecemos! O poder de um comentário de incentivo é imenso, obrigado! Também temos essa convicção, que nossas mentes criativas brasileiras são tão capazes quanto as de outros mercados criativos mais estabelecidos, só precisam disso mesmo, um “solo fértil”, um mercado criativo nacional que lhes dê suporte e oportunidades, e isso quem constrói somos todos nós, autoras e autores, leitoras e leitores, espectadoras e espectadores, nós somos O Mercado Criativo em ação, basta valorizar e incentivar também e fortemente o que é nosso. E esse pessoal da Kilmerson nos dá muita inspiração e coragem de fazer a nossa parte, com certeza! Abraço grande e todo sucesso para você também!