(Esta é uma versão estendida de resenha no Instagram da Fraternidade de Escritores).
Entrelaçar magia e ciência é uma tônica da ficção científica nacional, às vezes até tornando a obra difícil de classificar. O livro Quãm, que sem sombra de dúvida é um excelente exemplo da ficção científica escrita atualmente no Brasil, faz isso melhor, pois aplica o inteligente recurso que o premiado autor Ted Chiang usa com certa frequência e incrível destreza, visível em seu conto “Setenta e duas letras”: incluir o que aqui, no mundo real, entendemos como misticismo dentro daquilo que chamamos ciência.
Em “Quãm e Os Indícios Mortais”, o carismático autor Tadeu Loppara constrói um universo rico em detalhes, onde projeções astrais, energias espirituais e mesmo a alma proposta pelo Dualismo são fatos cientificamente comprováveis e até mesmo tecnologicamente acessíveis. Fantásticas aparelhagens digitais lá existentes são capazes, por exemplo, de ler auras e rastrear pistas residuais de forças que parecem ter a ver com Registros Akáshicos, conceito ocultista derivado do termo em sânscrito que, no Vedānta hinduísta, significa a base e a essência de todas as coisas no mundo.
Inicia-se a leitura com um clima, nós achamos, nostálgico no melhor sentido, pois a impressão que se tem é que o texto remete às grandes produções cinematográficas norte-americanas de sci-fi dos anos 80/90, quando a ficção científica dos blockbusters (especialmente o Wagner crê nisso) ousava mais, e não era a repetição sem fim dos mesmos temas sobre invasões alienígenas, dentre outros tantos apocalipses tão ao gosto dos repetitivos filmes FC atuais “de massa”. Já Quãm nos faz voar por panoramas marcianos vertiginosos, civilizações de néon vibrantes e, logo em seguida, nos mergulha em um planeta Terra decadente onde, mais do que nunca, a miséria só encontra alívio na fé. Quãm possui muitos dos elementos que atraem o Wagner (civilizações extraterrenas, espécies ancestrais, segredos de tecnologias tão avançadas que quase são indistinguíveis de magia) e alguns que interessam um pouco mais fortemente à Bianca (relacionamentos humanos bem plantados em meio a ação incessante).
Acreditamos que o autor pode trabalhar um “infodump” inicial, onde há descrição prévia do universo do livro, diluindo essa “introdução” nas cenas posteriores, mas, importante dizer, essa exposição não compromete a qualidade e potencialidade da obra, onde aos poucos vamos nos conectando com o protagonista e sua busca por completude espiritual, por relacionamentos significativos, e também com sua jornada investigativa, a caça de um ser monstruoso que, por razões conspiratórias e elitistas, é libertado de sua prisão milenar e cujo destino se conecta ao do protagonista de tal forma, que cada página do livro vai avolumando um necessário e eletrizante embate final épico!
Sobre os autores: Wagner RMS & Bianca Matos.
Muito boa a resenha!!! Parabéns!!!
Nós da Fraternidade é que agradecemos pelo teu comentário, Tadeu, e por participar da revolução que é o atual crescimento da nossa literatura pop nacional, onde brasileiros passam a não só consumir, mas a produzir ficção popular de alto nível. Volte sempre!